quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional discute papel do INSS na reinserção do trabalho


De Florianópolis (SC)- Retorno do profissional reabilitado ao mercado e novo modelo de avaliação de capacidade desafiam terapeutas
ocupacionais do INSS. A luta dos segurados reabilitados para retornar ao mercado de trabalho se equipara a dos que precisam incorporar uma cultura diferente da que conheceram durante toda uma vida. “Além da superação dos impactos físicos e emocionais, a resistência do mercado para absorver esses trabalhadores readaptados e o caráter imediatista da sociedade como um todo dificulta a reinserção”, analisa a responsável técnica pela Reabilitação Profissional na Superintendência Regional Sul do INSS, Renata Florez Rocha. Por isso, em todo o Brasil, terapeutas ocupacionais discutem hoje uma importante mudança que está para ser implementada no âmbito da Saúde do Trabalhador do INSS: ela prevê a ruptura com o modelo de avaliação da incapacidade laboral para promover o enfoque nas potencialidades do segurado.

Os impactos dessa política que está sendo desenvolvida pela Direção de Saúde do Trabalhador do INSS considerando as contribuições da Fundacentro foram discutidos por profissionais de todo o Brasil. Reunidos de 13 a 16 de outubro, no Centrosul, em Florianópolis, eles participaram do XIII Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, promovido pela associação brasileira da categoria (Abrato). Em vez de enfatizar para as empresas aquilo que o trabalhador não pode fazer, o novo modelo de avaliação de capacidade para o trabalho mostra as potencialidades que ele oferece.

“A ideia parte do princípio de que toda perda de uma antiga habilidade abre a oportunidade de descoberta e aprendizado de outros potenciais”, enfatiza Ana Isabel Macedo, do INSS em Belém. Ana participou, ao lado de Renata Florez, Marisa Petrucci Gigante, da Gex de Pelotas, Letícia Lopes Soares, de Porto Alegre e Suzana Elisa Szabunia, de Joinville, do I Simpósio de Terapia Ocupacional e Reabilitação Profissional, organizado especialmente dentro do congresso para discutir o papel da RP no âmbito do INSS, sobretudo na articulação das redes interinstitucionais de apoio à reinserção do trabalhador.

Para os segurados que perderam subitamente sua referência como trabalhador, o papel do INSS vai muito além da concessão do benefício. Desde 2008, os terapeutas ocupacionais ingressos em concurso já vêm atuando para a formação de equipes multiprofissionais que acompanham a reabilitação do segurado dentro do seu contexto social, enfatiza Marisa Petrucci.

É o caso de um segurado de Belém que trabalhava como auxiliar de pedreiro e desenvolveu um problema crônico de coluna incapacitante para essa atividade em um local onde não havia outra ocupação para uma pessoa como ele, sem escolaridade mínima. “Quando perguntamos que outro ofício gostaria de desempenhar, ele disse que sonhava em ser vigilante. Como a função exige ensino fundamental completo, conseguimos manter o benefício por dois anos para que ele estudasse”, relata Ana Isabel. Durante esse tempo, a terapeuta ocupacional e uma assistente social do município acompanhou o segurado, apoiando-o nas dificuldades e cobrando as ausências da escola, até que essa história tivesse um final feliz, com o seu emprego em um posto de vigilante.

Em geral, o segurado incapacitado parcialmente ou temporariamente por um acidente ou doença sente-se como os indivíduos que, segundo analisou o sociólogo espanhol Manoel Castells, “perderam o trem da modernização e permanecem na plataforma com muito pouca bagagem”. A sensação de desvantagem em uma sociedade despreparada para esperar essas pessoas se recuperarem e dominarem um novo saber-fazer equivale a dos que não conseguiram pegar o bonde das novas tecnologias, explica Marília Meyer, terapeuta ocupacional da USP, que já atuou no INSS. Durante o Simpósio, Marília apresentou sua dissertação de mestrado sobre os impactos do afastamento do trabalho na vida do indivíduo e o papel do INSS para ajudá-lo a construir uma nova identidade.

Representando as profissionais que atuam em empresas privadas, Gabriela Modesto falou sobre o acompanhamento dos segurados reabilitados dentro da multinacional Whirlpool Latin América, onde é a única terapeuta para um universo de 30 mil empregados em três fábricas localizadas em Manaus, Joinville e Dubai. “O que já é uma grande conquista”, salientou. O incentivo à formação de profissionais e à contratação de terapeutas para acompanhar a readaptação dos segurados encaminhados pelo INSS também são ações urgentes. Um documento foi aprovado reivindicando a abertura de cursos na área na Universidade Federal de Manaus, considerando a grande demanda de acidentes do trabalho e auxílio doença na região e na Universidade Federal de Santa Catarina, onde existe apenas uma faculdade privada, em Joinville.

A integração entre o INSS com o Ministério do Trabalho e Emprego também deve ser fortalecida, principalmente para fazer valer o cumprimento da lei 8.213, que obriga as empresas com mais de 100 empregados a contratarem 2 a 5% de trabalhadores com deficiência ou reabilitados. Como diz o teórico Ricardo Antunes, em uma sociedade que valoriza a produção, entrar no mercado de trabalho é difícil para um readaptado, mas ficar fora dele é pior.

Fonte:Raquel Wandelli, ACS/SC
18 de outubro de 2013
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